segunda-feira, 5 de abril de 2010

MÚSICA BARROCA ALEMÃ

UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS
ESCOLA DE MÚSICA E ARTES CÊNICAS
Disciplina: Literatura e Repertório do Piano
Profª Gyovana Carneiro

MÚSICA BARROCA ALEMÃ

Os conflitos religiosos que aconteceram na Alemanha no séc. XVII e o fato do país estar politicamente descentralizado contribuíram para o nascimento de um clima artístico que criou uma divergência de estilos musicais. Assim como na Inglaterra, as influências francesa e italiana foram muito fortes. Os compositores alemães, no entanto, mais que os compositores ingleses, acrescentaram traços de sua própria iniciativa e imaginação. O estilo resultante foi um terreno fértil, sobre o qual culminou a música barroca para teclado - as composições de J. S. Bach.
A influência italiana foi mais sentida pelos compositores que trabalharam na Áustria e no sul da Alemanha. Houve um uso contínuo de muitas formas originadas na Itália, exemplificadas pela toccata, o ricercare e a canzone. A música italiana influenciou principalmente através das composições de Merulo e Frescobaldi.
A influência francesa foi sentida não apenas pelo grupo de compositores da Áustria e sul da Alemanha, mas também por um grupo centrado em Nuremberg, Stuttgart, Halle e cidades menores da Alemanha Central. Veio da França o conceito da suite de danças como uma forma unificada e o caráter de cada um de seus movimentos. Outros elementos estilísticos de Lully e de outros cravistas podem ser observados, como o uso ocasional de ornamentos floridos, o uso de conceitos programáticos e uma propensão à clareza e refinamento.
Uma terceira e importante influência deve ser mencionada. Veio do norte da Europa, mais especificamente de Sweelinck e seus alunos, particularmente Samuel Scheidt. Essa influência combinava a vivacidade e exatidão da escola italiana com a inventividade e variedade dos virginalistas ingleses. Essas características emergiram na Alemanha no séc. XVII, como as técnicas e estilos expressivos empregados na variação coral, na toccata e na fuga.
Embora muitas músicas desse período sejam obviamente destinadas ao órgão, há um grande número delas que é indicada para qualquer instrumento de teclado, assim como aconteceu em outros países. Na Alemanha o termo clavier era usado para designar a música para qualquer instrumento de teclado.
A emergência de formas do barroco alemão apresenta um quadro complexo. Freqüentemente, vários nomes eram utilizados para designar composições que são basicamente do mesmo tipo. Além disso, vários nomes que eram associados a um tipo de composição começaram a se referir a músicas com diferentes características. Novas designações começaram a aparecer, como no caso das sonatas, e velhos tipos, levemente alterados, receberam novos nomes, como a fuga, por exemplo.
A toccata continuou a ser uma peça de 3 a 5 seções, tendo sido herdadas de Merulo e Frescobaldi. No norte da Alemanha, compositores como Buxtehude começaram a desenvolver um conceito mais amplo da toccata, usando seções mais longas, figurações imaginativas, mudanças harmônicas e certos procedimentos calculados para produzir efeitos dramáticos. A fantasia não é mais uma peça de caráter estritamente imitativo, se tornando quase indistinguível da toccata. O prelúdio e a fuga estavam relacionados ao conceito que guiava as seções alternadas da toccata, onde uma composição altamente imitativa era precedida por uma de relativa liberdade.
Os diversos tipos de variações existentes continuaram a ter importante papel. Podem ser encontradas variações sobre uma melodia simples, uma ária popular, ou sobre uma das melodias padronizadas como romanesca, ruggiero ou passamezzo moderne. Tais variações freqüentemente eram chamadas de partita. Outro tipo de variação era construído sobre um modelo de baixo recorrente e designado por um dos nomes: chaconne, passacaglia ou ground bass. Variações corais eram típicas da música para órgão, mas também eram encontradas ocasionalmente na literatura para cravo e clavicórdio, a maioria entre aquelas peças para teclado que não podem ser restritas a um único instrumento de teclado, como as variações corais que aparecem na Tablatura nova de Scheidt.
O conceito da suite de danças foi emprestado da França, mas a estabilização de seu formato se deu na Alemanha. A seqüência que hoje é associada a suite barroca é exemplificada mais claramente nas obras de J. S. Bach, como se segue:
(A) allemande
(C) courante
(S) sarabande
(O) opcional: minuet, bourrée, gavotte, polonaise, passapied, aire, etc.
(G) gigue

Antes de Bach, a organização dos movimentos era variada. Por exemplo, Johann Erasmus Kindermann usou apenas ACS, e Matthias Weckmann AGCS. Johann Jacob Froberger foi a figura mais importante antes de Bach, no desenvolvimento da suite de danças na Alemanha.
A sonata teve seu ponto de partida na Itália com a sonata di chiesa. O primeiro uso do termo sonata é atribuído a Adriano Banchieri (1567-1634) como um título de exemplos musicais, encontrado em um tratado que escreveu sobre a execução do órgão, L'organo suonarino (1605). O primeiro compositor alemão a usar o termo, como um movimento de uma suíte, foi Johann Heinrich Schmelzer (ca. 1623-1680). Johann Kuhnau (1660-1722) chamou 14 de suas peças de sonatas, adicionando a suas últimas peças com esse título projetos mais elaborados e elementos descritivos. As primeiras sonatas contêm de três a seis movimentos contrastantes, freqüentemente organizados em uma seqüência que alternava andamentos lentos e rápidos. O estilo tanto podia ser de uma canção como o de uma melodia contrapontística, com o baixo funcionando como um contínuo para duas partes superiores.

Compositores:
Samuel Scheidt (1587-1654): um elo importante entre o estilo inglês do norte da Europa e a Alemanha, estudou com Sweelinck em Amsterdã. Sua obra mais importante é a coleção Tablatura nova, escrita para instrumentos de teclado em geral e que contém corais, toccatas, fantasias, passamezzos, salmos, hinos, Magnificats e uma missa. As peças estão escritas na textura homofônica e polifônica.
Johann Jacob Froberger (1616-1667): figura importante no desenvolvimento da suite de danças. Possui um estilo pessoal e sensível. Não indica ornamentação, deixando a cargo do intérprete. Suas obras incluem: 25 toccatas, 8 fantasias, 6 canções, 18 caprichos, 15 ricercares e 30 suites. A ordem original dos movimentos da suite era ACGS ou AGCS, mas o editor colocou-as numa "melhor ordem" depois da morte do compositor, estabelecendo a seqüência que hoje é associada à suite: ACSG.
Johann Casper Kerll (1627-1693): sua obra mais importante é para órgão: Modulatio organica super Magnificat octo tonis. Outras obras para teclado incluem canções, caprichos e toccatas. Utilizava procedimentos descritivos em suas obras.
Dieterich Buxtehude (1637-1707): influenciou Bach e Handel. Embora a maior parte de sua obra para teclado tenha sido dedicada ao órgão, um pequeno número de peças para cravo foi descoberto em 1942 e consiste de 19 suites (ACSG), 6 variações e 3 outras peças menores de autenticidade questionável. Exibem um estilo simples com considerável vivacidade e imaginação.
Johann Kaspar Ferdinand Fischer (ca 1650-1746): mostra grande influência francesa. Algumas de suas primeiras suites apresentam um prelúdio como peça introdutória. A ordem dos movimentos varia e quase nunca é ACSOG. São peças curtas, mas mostram habilidade e imaginação.
Johann Krieger (1652-1735): suas principais obras são: Musicalische Partien, uma série de seis suites na ordem ACSG e Anmutige Clavier-Übung, uma das primeiras obras a unir um prelúdio a uma fuga na mesma tonalidade.
Georg Muffat (1653-1704): sua principal obra para teclado é Apparatus musico-organisticus, escrita para órgão. Mostra influência de Corelli e Lully.
Johann Kuhnau (1660-1722): foi uma das figuras mais proeminentes no desenvolvimento das primeiras sonatas para teclado. Sua primeira sonata, em si b, está escrita em quatro pequenas seções e alterna andamentos lento-rápido-lento-rápido. Sua coletânea mais célebre de sonatas é Musicalische Vorstellung einiger biblischer Historien in 6 Sonaten, onde cada sonata é baseada em uma narrativa bíblica.
Georg Böhm (1661-1733): sua influência sobre Bach é evidente, visto que seus minuetos aparecem no livro de Anna Madalena. Suas obras para cravo consistem, em sua maioria, de suites.
Johann Pachelbell (1653-1706): suas obras para órgão são importantes por serem consideradas como prenúncio das obras de Bach. Escreveu corais, suites e fugas que provavelmente eram destinadas ao órgão e escritos para ritos religiosos. Embora as fugas sejam curtas e monotemáticas, são consideradas um dos mais importantes exemplos de fugas escritas antes de Bach.
Georg Philipp Telemann (1681-1767): um dos mais prolíficos compositores de toda a história da música, cuja obra infelizmente ainda é ignorada. Pesquisou idéias na França com esperança de reformar a música na Alemanha. Inspirou-se em Couperin, Lully e Rameau. Seu repertório merece ser conhecido, principalmente as sonatas e fugas, que mesclam o estilo galante francês com o vigor italiano, as peças imitativas, as fantasias e as sonatas inspiradas em Pasquini. Seu talento é melhor representado em suas fantasias.

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