domingo, 11 de abril de 2010

J. S. Bach (1685 - 1750)



UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS
ESCOLA DE MÚSICA E ARTES CÊNICAS
Disciplina: Literatura e Repertório do Piano

JOHANN SEBASTIAN BACH

CRONOLOGIA
1685 – Nasce em Eisenach, filho e neto de organistas e cantores.
Adquiriu grande cultura clássica apreendendo grego e latim. Estudou composição com Helder e Böhm e foi reconhecido também como reparador de órgãos.
1714 – Músico e organista da corte de Weimar, nomeado konzertmeister; produz suas primeiras grandes obras para órgão e cravo.
1717 – Transferido para Cöthen, é nomeado kapellmeister.
Nessa época sua produção de música instrumental foi mais intensa, quando o órgão e a música de igreja não tiveram o mesmo tratamento. Entre as obras compostas nesse período pode-se citar as Suítes Francesas, Suítes Inglesas, as seis Sonatas para violino e cravo, os seis Concertos de Brandenburgo, Sonatas e Partitas para violino solo e as seis Suítes para violino solo.
1723 – Kantor da Igreja São Thomas de Leipzig; tinha a tarefa de compor uma nova cantata para cada domingo, festa ou cerimônia oficial, quando desenvolveu ainda mais sua arte composicional.
1750 – Morre em Leipzig.

A OBRA PARA TECLADO
O CRAVO BEM TEMPERADO (1722-1744)
BWV 846-869 e BWV 870-893
Obra composta em dois volumes contendo cada um 24 prelúdios e fugas. Escrita em todos os tons e semitons da escala, explora todas as possibilidades do temperamento, caracterizado pela divisão da escala em doze semitons iguais entre si. Sistema já pesquisado por outros, mas realizado satisfatoriamente por Bach, contribuindo assim para um grande desenvolvimento da música instrumental.
O Cravo bem Temperado, juntamente com as Variações Goldberg, pode ser considerado o ponto alto das composições para teclado de Bach. Tal a sua importância, foi utilizado como base para estudos diários de diversos compositores, entre eles Schumann e Chopin.
O primeiro volume foi concluído em 1722, em Cöthen, e o segundo escrito entre 1740 e 1744, em Leipzig.

Observações:
Forma:
Prelúdios – Bach não os submeteu a uma organização aparente, considerando que nessa época, o prelúdio era uma forma livre onde o intérprete podia improvisar. Diversidade, liberdade e imaginação eram a regra. Onze deles foram retirados do Clavierbüchlein.
Fugas – Uma forma por excelência, construída com estrutura própria. Há uma certa unidade entre Prelúdio e Fuga da mesma tonalidade, mais evidente no primeiro volume que no segundo.
Instrumento executante:
Não foi especificado em qual instrumento de teclado deveriam ser executados os Prelúdios e Fugas. Alguns soariam melhor no clavicórdio, outros no cravo, e alguns se adaptariam melhor no órgão. Já houve um questionamento a respeito da execução dessas peças no piano. Atualmente, nada impede que o piano moderno expresse a estrutura do barroco e a idéia de Bach. Segundo Glenn Gould, “estas páginas se distinguem por uma evidente abstração instrumental”.
Andamento:
Há uma certa arbitrariedade quanto à indicação de andamentos nas edições modernas. Bach especificou apenas três: Presto no compasso 23 do Prelúdio nº 10, Andante no Prelúdio nº 24 e Largo em sua Fuga, ambos do primeiro volume, e Largo no Prelúdio nº 16 do segundo volume.

Pequenas Considerações sobre alguns Prelúdios e Fugas
Volume 1:
Nº 1 em Do Maior:
Prelúdio – baseado em acordes quebrados com caráter de improvisação, que era de uso corrente na época de Bach, devido à influência do alaúde.
Fuga – a 4 vozes. Embora as modulações sejam modestas, é mantida uma extraordinária tensão.
Nº 2 em do menor:
Prelúdio – (Clavierbüchlein); como uma toccata ou estudo de virtuosidade para duas mãos, é baseado em um desenho de semicolcheias.
Fuga – a 3 vozes, apresenta uma polifonia transparente, com dois contra-sujeitos e rica em divertimentos.
Nº 3 em Do# Maior:
Prelúdio – como uma invenção a duas vozes.
Fuga – a 3 vozes, possui numerosos divertimentos. Junto com o prelúdio é uma das mais bonitas e mais difíceis deste volume.
Nº 4 em do# menor:
Prelúdio – (Clavierbüchlein); tema calmo e modesto.
Fuga – a 5 vozes, complexa e em estilo de ricercare italiano, soa como peça vocal religiosa. Tríplice, cada sujeito tem sua personalidade própria, sendo o primeiro de caráter severo, o segundo mais instrumental e luminoso e o terceiro cria uma sucessão de divertimentos e episódios variados, se sobrepondo ao primeiro nos compassos que antecedem a conclusão.
Nº 5 em Re Maior:
Prelúdio - (Clavierbüchlein); peça de virtuosidade para mão direita, brilhante, clara e sem pausa, seu ritmo se mantém até o fim.
Fuga – sujeito nobre e majestoso, firmado por um ritmo pontuado à francesa.
Nº 6 em re menor:
Prelúdio - (Clavierbüchlein); peça de virtuosidade para mão direita, utiliza a posição natural da mão sobre o teclado. A cadência está em Re Maior.
Fuga – a três vozes. Bach recomenda que o si do segundo compasso seja executado separado. Utiliza pedal dobrado da tônica no final.
Nº 7 em Mi b Maior:
Prelúdio – curta toccata, introduz episódio em estilo fugato. Prelúdio com orientação de fuga; escrito em duas partes, utiliza fugato a quatro vozes, em estilo antigo.
Fuga – a três vozes, é mais livre, contrastando com o prelúdio. Os divertimentos e marchas nascem dos arpejos do contra-sujeito.
Nº 8 em mi b menor:
Prelúdio - (Clavierbüchlein); seu canto se situa entre um recitativo e um noturno.
Fuga – a três vozes, seu sujeito é um tema de canto gregoriano. Esta peça magnífica anuncia a atmosfera de intenso recolhimento que será a Missa em si menor.
Nº 10 em mi menor:
Prelúdio - (Clavierbüchlein); é um dos raros em que Bach faz indicação de andamento.
Fuga – única a duas vozes.
Nº 11 em Fa Maior:
Prelúdio - (Clavierbüchlein); estudo de virtuosidade para independência de dedos sem passagem do polegar; invenção a duas vozes.
Nº 12 em fa menor:
Prelúdio – como se fosse destinado ao órgão, devido à quantidade de notas ligadas, lembrando que Bach não especificou para qual instrumento de teclado foi escrito.
Fuga – estreitamente ligada ao prelúdio.
Nº 15 em Sol Maior:
Prelúdio – cheio de emoção, escrito a três vozes com sucessivas marchas harmônicas. Apresenta alguma similaridade com o ritmo das Invenções a duas vozes nº 6 e nº 14.
Fuga – calma e serena.

Nº 18 em sol# menor: Bach não utiliza esta tonalidade fora de seus Prelúdios e Fugas.
Prelúdio – movimento dançante caracterizado pelo compasso 6/8.
Fuga – caráter grave, com dois contra-sujeitos, segue o gracioso prelúdio.
Nº 19 em La Maior:
Prelúdio – a três vozes, em estilo de dança leve.
Fuga – caráter esperto, apresenta construção rítmica pouco comum, começando sobre colcheia isolada, utilizando pausa de três colcheias e movimentando em progressão ascendente por quartas.
Nº 20 em la menor:
Prelúdio – caráter de dança graciosa e leve.
Fuga – complexa; o pedal sobre o la (compasso 83) leva à questão: para qual instrumento? Órgão ou cravo com pedal? No cravo ou clavicórdio ela se torna impraticável.
Nº 22 em si b menor:
Prelúdio – construção harmônica densa, predominantemente a quatro e cinco vozes, conclui a nove vozes.
Fuga – a cinco vozes e de estilo sério, assemelha-se à peça vocal.
Nº 23 em Si Maior:
Apresenta grande identidade entre as primeiras notas do Prelúdio e o início da Fuga.
Nº 24 em si menor:
Prelúdio – andamento Andante indicado por Bach. Com caráter de meditação, é mais apropriado para o órgão.
Fuga – Largo também claramente indicado por Bach, apresenta a grandeza e grandiosidade de suas Paixões.

Volume 2: é considerado um prolongamento do primeiro volume, apesar de não apresentar a mesma unidade.
Nº 1 em Do Maior:
Prelúdio – grande improvisação no estilo de prelúdio para órgão.
Fuga – de execução mais fácil que o Prelúdio.
Nº 2 em do menor:
Prelúdio – grandiosa invenção a duas vozes.
Fuga – a quatro vozes, apresenta estranha conclusão em mi menor sobre a 7ª diminuta que precede a cadência final de do menor.
Nº 3 em Do# Maior:
Prelúdio – pequena fuga que se encadeia sobre um acorde de dominante.
Fuga – começa no estilo canônico. Desde o início o sujeito já está exposto invertido. Termina num pedal da tônica
Nº 4 em do# menor:
Prelúdio – peça longa escrita a três vozes com caráter dançante sugerido pelo compasso 9/8.
Fuga – o sujeito teria sido escrito originalmente em do menor. Evoca uma giga italiana e o tema cromático sugere um segundo sujeito.
Nº 5 em Re Maior:
Prelúdio – grande peça a três vozes, escrito como um movimento de sonata, com exposição, desenvolvimento e re-exposição. Utiliza um tema de fanfarra, quase orquestral, lembrando Scarlatti.
Fuga – calma nobre contrastando com a suntuosidade do prelúdio. Utiliza um tema coral no início.
Nº 6 em re menor:
Prelúdio – a superposição das duas mãos do compasso 18 ao 25 torna-se difícil de realizar num só teclado; provavelmente tenha sido escrito para um cravo com dois teclados.
Nº 7 em Mi b Maior:
Prelúdio – como uma giga; orientado sobre um desenvolvimento modulante dos desenhos de arpejos, evoca um alaúde.
Nº 8 em re# menor:
Neste volume Bach abandona o tom de mi b menor, substituindo-o por re# menor, tonalidade pouco usada na época barroca.
Nº 9 em Mi Maior:
Prelúdio – conhecido como um longo movimento de suíte em duas partes, onde o tema inicial é exposto sobre um pedal da tônica.
Fuga – construída sobre um motivo gregoriano de seis notas, o sujeito evoca a polifonia vocal.

Nº 11 em Fa Maior:
Prelúdio – os legatos que se prolongam de uma voz a outra são escritos por Bach. Notam-se efeitos dissonantes particulares, como por exemplo, entre o do bequadro e o do sustenido no compasso 52.
Nº 12 em fa menor:
Prelúdio – escrito em duas seções, se apresenta como um movimento de sonata.
Nº 13 em Fa# Maior:
Prelúdio – inicia como uma overture francesa com valores pontuados e ornamentado com fusas.
Fuga – a condução da peça e a escrita arpejada escolhida por Bach confere um aspecto instrumental à obra.
Nº 14 em fa# menor:
Prelúdio – um dos mais bonitos do segundo livro, pela sua grandiosa serenidade.
Fuga – tríplice (Bach escreve apenas uma em cada volume com esta característica); o primeiro sujeito inicia com intervalos disjuntos, o segundo com ritmo mais enérgico e o terceiro só aparece construído nos compassos que precedem a cadência final.
Nº 16 em sol menor:
Prelúdio – Bach indicou o andamento Largo em seu início; de caráter solene parece um prelúdio para órgão.
Fuga – construída de maneira particular com seis notas repetidas.
Nº 17 em La b Maior:
Prelúdio – o tema principal aparece apoiado num acorde perfeito.
Fuga – o sujeito ligado se opõe a um contra-sujeito cromático, que sugere o começo de um segundo sujeito.
Nº 18 em sol # menor:
Prelúdio – Bach indica as intensidades p e f no compasso 50.
Nº 20 em la menor:
Prelúdio – invenção a duas vozes, escrita em duas partes separadas por uma barra de repetição. A construção inteira se baseia num movimento cromático das duas vozes.
Fuga – a construção é peculiar porque, após a exposição, as novas entradas do sujeito quase nunca são integradas.
Nº 23 em Si Maior:
Prelúdio – conhecido como uma toccata, cortada por dois episódios.
Fuga – soa como uma fuga para órgão.
Nº 24 em si menor:
Prelúdio – o tema é enunciado pela mão direita e pela esquerda. Um brusco corte na sensível leva o tema inicial à mão esquerda.
Fuga – construída sobre um tema de passapied. O contra-sujeito é efêmero; ao desaparecer definitivamente, dá lugar a um novo contra-sujeito muito instrumental, que vai até a coda.

VARIAÇÕES GOLDBERG
BWV 988
Publicadas em 1742, formam a quarta parte do Clavier-Übung, e foram encomendadas pelo Conde von Keyserling para que o cravista Goldberg (aluno de Bach) pudesse tocá-las no quarto ao lado, preenchendo o vazio das noites de insônia sofridas pelo Conde. O título usado por Bach, a princípio, foi Ária com algumas variações para cravo a dois teclados.
Apesar de Bach ter sido muito preciso, mostrando a natureza do instrumento para qual foi escrito, sendo algumas para dois teclados, outras para três e outras apenas um, a questão existe: pode ser executado no piano? Pela estrutura da escrita, com superposição de mãos e rápida repetição de notas, tende-se a optar pelo cravo. No entanto existem excelentes gravações no piano, como é o caso de Glenn Gould.
Escrita em Sol Maior, o esboço harmônico da primeira Ária está presente na maioria das variações, exceto em três que estão no modo menor. À medida que se desenvolve vai tornando-se mais brilhante e mais difícil tecnicamente. Esta primeira Ária é uma Sarabanda muito ornamentada, em estilo francês, que também aparece no Clavierbüchlein, escrito para Anna Magdalena.
1ª variação – estilo de invenção a duas vozes, para um teclado.
2ª variação – a três vozes.
3ª variação – cânone all’unisuono, uma das mais difíceis.
4ª variação – alegre, ritmo rápido, é uma invenção a quatro vozes.
5ª variação – para um ou dois teclados, é um duo rápido e claro antes do segundo cânone.
6ª variação – cânone alla seconda.
7ª variação – tempo de giga, para um ou dois teclados, possui caráter de Siciliana.
8ª variação – para dois teclados, com grande ornamentação do tema.
9ª variação – cânone alla terça.
10ª variação – para um teclado, fughetta construída a quatro vozes.
11ª variação – para dois teclados, o cruzamento de mãos impõe o uso do cravo.
12ª variação – para um teclado, cânone a três vozes, alla quarta.
13ª variação – grande ária ornamentada à italiana sobre uma escrita a três vozes.
14ª variação – brilhante tocata para dois teclados; extremamente rápida, com quatro temas, seu estilo se firma desde os primeiros compassos.
15ª variação – cânone alla quinta; andante, a primeira em sol menor; de caráter expressivo, por isso o andamento moderado.
16ª variação – overture francesa em duas partes, sendo a primeira lenta e majestosa, com ritmo pontuado e a segunda um fugato a três vozes.
17ª variação – para dois teclados, lembra uma toccata, onde apenas uma idéia é desenvolvida.
18ª variação – cânone alla sexta.
19ª variação – ária em trio sobre o ritmo de passapied.
20ª variação – para dois teclados, é uma toccata muito brilhante, com três idéias dominantes.
21ª variação – cânone alla sétima, é a única que Bach não indica para quantos teclados. Utiliza cromatismo descendente.
22ª variação – alla breve, cânone imitativo em três vozes superiores.
23ª variação – toccata para dois teclados.
24ª variação – cânone alla oitava, dança moderada que se desenvolve sobre o balanço rítmico de uma sarabanda.
25ª variação – adagio para dois teclados, em sol menor; é uma ária a três vozes em estilo italiano, muito ornamentada.
26ª variação – chacone para dois teclados, utiliza polirritmia, empregando o compasso 18/16 na mão direita e 3/4 na mão esquerda.
27ª variação – para dois teclados, cânone alla nona, é simples e clara, com imitações de compasso em compasso.
28ª variação – toccata para dois teclados.
29ª variação – toccata para um ou dois teclados, apresenta uma sucessão de acordes brilhantes que se alternam nas duas mãos.
30ª variação – para um teclado, é uma coda livre, com duas melodias populares que se superpõem. Depois de um momento de jovialidade, Bach retorna à primeira versão da Sarabanda inicial.

CLAVIERBÜCHLEIN
Bach escreveu, com esse título, uma obra de cunho didático, constituída de dois livros, sendo o primeiro dedicado a Wilhelm Friedemann e o segundo, em dois volumes, dedicado a Anna Magdalena. Essa obra contém duas tábuas: uma mostrando a maneira de figurar as claves de sol, do e fa, e outra explicando treze sinais de ornamentos. Encontra-se, em seu início, o famoso Applicatio em ut majeur (BWV 994), onde Bach sugere a utilização do terceiro dedo sobre o quarto e inicia o uso do polegar, uma ousadia para a época.
O volume dedicado a Wilhelm Friedemann contém as primeiras versões das Invenções e Sinfonias e alguns Prelúdios do Livro I do Cravo bem Temperado.
No primeiro volume do Clavierbüchlein dedicado a Anna Magdalena, encontra-se a primeira versão das Suítes Francesas e também peças para órgão. O segundo volume é uma coletânea de peças como: minuetos, marchas, poloneses, musette, duas Partitas, duas Suítes Francesas, já transcritas do primeiro álbum, e também cópias de peças de diversos autores como: Hasse, Böhm, Couperin e alguns de seus filhos.

INVENÇÕES A DUAS E TRÊS VOZES
BWV 772 – 786 e BWV 787 – 801
Publicadas em Cöthen em 1723, foram escritas com fins educacionais. Em seu prefácio, Bach afirma que essas obras se destinam àqueles que queiram aprender a executar corretamente peças a duas e depois a três vozes.
As tonalidades seguem em ordem cromática e, por motivos pedagógicos, Bach evita tonalidades mais difíceis. Explora todos os processos conhecidos por ele: fuga, cânon; utiliza formas de escrever que lembram o cromatismo, o uso de pedais harmônicos, o princípio do baixo contínuo ou as diversas maneiras de se ornamentar um tema.
Cada peça é estritamente monotemática, sendo que as Invenções a duas vozes são mais limitadas e menos variadas que as Sinfonias (a três vozes).

SUITES INGLESAS
BWV 806 – 811
Não se conhece a data exata da composição dessas peças. No entanto, a diversidade encontrada nas seis suítes leva a crer que foram compostas em épocas diferentes.
A origem do nome não é explicada por Bach, mas o musicólogo J. N. Forkel acredita que tenham sido dedicadas a um rico inglês. Já Karl Geiringer admite a hipótese de que Bach tenha sido influenciado por peças de Charles Dieupart, compositor francês cuja carreira se desenvolveu em Londres. Sua Giga em La Maior serviu de modelo para o Prelúdio da primeira Suíte Inglesa.
Ao contrário das Suítes Francesas, que possuem características da música francesa, as Suítes Inglesas não apresentam qualquer similaridade com a música inglesa. São mais difíceis que as primeiras e denotam um caráter concertante deliberadamente instrumental.
Cada suíte começa por um prelúdio de grande envergadura, todas com oito partes, sempre em forma binária e estão organizadas em ordem decrescente de tonalidade: La Maior, la menor, sol menor, Fa Maior, mi menor e re menor.

SUITES FRANCESAS
BWV 812 – 817
Bach teria terminado essa coleção de seis suítes durante sua permanência em Cöthen, sendo que as cinco primeiras foram copiadas do Clavierbüchlein dedicado a Anna Magdalena.
A origem do nome tanto pode se referir ao agrupamento de danças em esquema clássico, como à influência da música francesa durante a juventude de Bach. Todas são compostas de seis ou oito partes, de execução relativamente fácil, sendo a Suíte nº 1 de caráter arcaico, e a nº 6 a mais brilhante e mais célebre. Construídas com peças em forma binária com repetição, sendo as três primeiras em modo menor e as três últimas em modo Maior.

PARTITAS
BWV 825 – 830
Foram publicadas por Bach, em Leipzig, entre 1726 e 1731, sendo uma por ano. Em 1731 foram publicadas integralmente como op. 1, recebendo o nome de Clavier-Übung.
Possuem a estrutura de uma suíte, porém são mais ricas e mais complexas. Cada uma começa com uma introdução, com títulos diferentes: Prelúdio, Sinfonia, Fantasia, Overture, Praeambulum e Toccata. Todas contêm as quatro danças tradicionais da suíte (Alemanda, Sarabanda, Corrente e Giga), acrescidas de algumas Galanteries, tais como: Minueto, Passapied, Burlesca, Scherzo e Rondo.
Com as Partitas, Bach renova consideravelmente a característica da suíte, elevando-a a seu mais alto nível.
Partita nº 1: em Si b Maior, com sete partes, distingue-se pela simplicidade relativa e concisão do Prelúdio.
Partita nº 2: é mais vasta e polifônica que a nº 1.
Partita nº 3: com sete movimentos, intercalando Galanteries: Burlesca e Scherzo.
Partita nº 4: em Re Maior, sinônimo de alegria e brilho.
Partita nº 5: intercala duas Galanteries entre a Sarabanda e a Giga: Minueto e Passapied.
Partita nº 6: em mi menor, sua versão primitiva se encontra no Clavierbüchlein, cuja toccata, utilizada como peça de introdução, possui caráter de improvisação e liberdade controlada.

ABERTURA EM ESTILO FRANCÊS EM SI MENOR
BWV 831
Pertence à segunda parte do Clavier-Übung, que contém também o Concerto Italiano. Escrita para cravo com dois teclados, contém onze movimentos, e pode ser considerada uma síntese entre a Suíte para Cravo e a Abertura para Orquestra.
Bach faz indicações de intensidade, utilizando o forte para o tutti e piano para os solos da linha melódica. A Abertura, que é escrita em três partes (grave, allegro fugato e grave), precede danças tradicionais (Corrente, Gavota I e II, Passepied I e II, Sarabanda, Bourrée I e II, Giga, Echo) e toda ela possui espírito francês, que se deve à convivência de Bach com a música de compositores franceses, dentre eles Couperin, muito tocada na corte alemã.

FANTASIA CROMÁTICA E FUGA EM RE MENOR
BWV 903
Publicada em 1802, teria sido iniciada em Cöthen e terminada em Leipzig, em 1730. Durante certa época, existiu uma dúvida a respeito de seu autor: se teria sido mesmo composta por J. S. Bach, Carl Philipp ou ainda Wilhelm Friedemann Bach. Essa obra exerceu grande influência sobre o romantismo.
A Fantasia é extremamente atormentada e movimentada. Possui três partes: a primeira uma Toccata, com espírito de improvisação e caráter virtuosístico, com um tratamento só encontrado na cadência do quinto Concerto de Brandemburgo; a segunda um amplo recitativo arioso, carregado de alterações e com grande força expressiva e a terceira um estilo improvisado do início e elementos do recitativo. As alterações se multiplicam até acalmar na cadência final.
De estilo nórdico, foi escrita à maneira de Buxtehude, caracterizado por utilizar a paixão, a grandeza, a fantasia e a procura de timbres variados. A Fuga, por sua vez, é calma, com harmonia enriquecida por tonalidades distantes de re menor. Termina com o baixo pesado e dobrado, utilizando o acorde de quatro sons, que soa como baixos de órgão. Esta resolução nunca tinha sido utilizada antes por Bach.

CONCERTO ITALIANO
Publicado em 1735, foi escrito para cravo solo com dois teclados. Essa obra-prima revela o Bach organista, sinfonista e o mestre da forma do concerto. Por que esta obra é chamada italiana e por que um concerto? Primeiro, por causa dos três movimentos que compreendem o concerto – Allegro, Andante, Presto – conforme o plano geral do concerto italiano. Segundo, porque este Concerto representa o arranjo para teclado de uma obra orquestral com um solista, baseado em um modelo existente apenas na imaginação do compositor. Nos compassos de abertura do Allegro percebe-se o tutti orquestral em oposição aos motivos lineares da voz solista. Essas passagens solo são tocadas em um teclado enquanto o outro teclado sustenta os acordes, como no estilo italiano. O Andante é lírico e quase dramático com seus recitativos e síncopes, mas também possui um amplo contorno melódico. O estilo concertato aparece novamente no final Presto onde Bach cria uma habilidosa oposição entre tutti e solista. Este final evoca o sentimento jubilante tão característico de Bach.

TOCCATAS
Essas peças são atribuídas à época da formação de Bach, tendo sido compostas em datas diferentes. Não foram editadas enquanto Bach vivia. Não possuem indicação de instrumentação e, apesar de Bach apreciar o clavicórdio, a virtuosidade dessas peças leva a crer que não são apropriadas para esse instrumento. Todas têm uma ou duas fugas.
Nº 1 em fa# menor (1709-1712):
BWV 910 – cinco partes, duas fugas
Nº 2 em do menor (1709-1712):
BWV 911 – três partes, uma fuga
Nº 3 em Re Maior (1705-1708):
BWV 912 – seis partes, uma fuga, um duplo fugato
Nº 4 em re menor (1705-1708):
BWV 913 – primeira a ser publicada, seis partes, duas fugas
Nº 5 em mi menor (1707-1710):
BWV 914 – dois movimentos lentos, duas fugas
Nº 6 em sol menor (1707-1710):
BWV 915 – cinco partes, duas fugas
Nº 7 em Sol Maior (1710):
BWV 916 – três movimentos, sendo dois rápidos (uma fuga) e um movimento central lento



BIBLIOGRAFIA:
GILLESPIE, John. Five centuries of keyboard music. New York : Dover Publications, 1965.
TRANCHEFORT, François-René (dir.) Guide de la musique de piano et clavecin. Paris : Librarie Arthème Fayard, 1987.

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