sábado, 10 de julho de 2010

Tocatas, Variações, Caprichos, Fantasias, e Fantasia e Fugas de Johann Sebastian Bach por Jonathan Taylor de Oliveira

Literatura e Repertório do Piano III
Profa. Gyovana Carneiro
Jonathan Taylor de Oliveira

Tocatas, Variações, Caprichos, Fantasias, e Fantasia e Fugas de
Johann Sebastian Bach

Como o título fala, para mim ficou a tarefa de falar sobre as Tocatas, Variações, Caprichos, Fantasias, e Fantasia e Fuga. Antes de começar a falar separadamente sobre cada categoria, eu gostaria de falar brevemente sobre como estes generos composicionais eram utilizados pouco antes e durante a época de Bach.

No séc. XVII a escrita instrumental começou a ganhar força e os compositores começaram a querer compor para uma formação vocal ou instrumental específica, deixando de lado o costume de fazer música que pordria ser realizada por diversas formações. O rítmo poderia ser tratado de duas maneiras diferentes: com métrica regular (separados por barras de compasso a intervalos regulares a partir de 1650); ou de maneira livre, sem métrica específica. Este último tratamento era dado a peças de carater recitativo ou improvisatório, como a tocata, fantasia, e prelúdio da época.

O contraponto continua sendo a base para a composição no séc. XVII, mas ao contrário do período anterior, em que as vozes eram tratadas como independentes umas das outras, no Barroco as vozes eram interdependentes, devendo encaixar-se em acordes enquanto faziam suas próprias melodias. O tratado de Harmonia de Rameau consolidou o sistema tonal que já estava em utilização.

Apesar das tentativas de padronizar e definir as formas musicais, estas ainda estavam confusas, tendo ainda várias o mesmo significado. Por exemplo, peças que realizavam variações poderiam ser chamadas partita, passacaglia, chacone, partita coral e prelúdio coral, enquanto peças de estilo improvisatório poderiam ser chamadas tocata, fantasia ou prelúdio.

Capricho – peça geralmente viva, de estrutura “solta”, frequentemente de caráter humorístico. No séc. XVI o termo era utilizado para designar canzonas, fantasias, ricercari, etc., frequentemente seguindo o modelo da polifonia imitativa vocal. No Barroco, comopositores desde Frescobaldi a J. S. Bach escreveram caprichos para instrumento de teclado com características fugais e improvisatórias.1

Fantasia – De proporções maiores do que as do Ricercare, em que o tema era desenvolvido em imitação, e de organização formal mais complexa. Desenvolvido sobre um ou mais temas de caráter legato. Desde os primeiros anos do séc. XVII era chamado de Fuga na Alemanha.

Variações – Forma composicional utilizada desde o Renascimento para instrumentos de teclas. Era muitas vezes designado no séc. XVII como partita. A melodia poderia ser repetida com poucas ou nenhma alteração em diversas vozes em contraponto. A estrutura harmônica, não a melodia, era o fator constante. Tais obras eram geralmente baseadas em melodias corais. No séc. XVIII era geralmente construída sobre uma ária, dança, coral, etc.

Tocata – As tocatas e os prelúdios se tornaram obras de maiores proporções na segunda metade do séc. XVII, simulando uma longa improvisação. Funcionava frequentemente como uma peça para a exibição da virtuosidade nas teclas e nas pedaleiras, característica de Bach como instrumentista. Era incorporada à tocata, peça de caráter improvisatório, uma seção contrapontística. Com o tempo, a seção contrapontística ganhou seu próprio lugar como peça separada, surgindo assim a Tocata e Fuga.


Passemos neste momento para uma exploração dos gêneros supracitados na obra de J. S. Bach. A ordem de abordagem dos gêneros não será cronológica, mas aleatória.

Caprichos – Como foi dito anteriormente, Bach utilizou características fugais e impeovisatórias ao compor para este gênero. Encontramos apenas dois caprichos. O primeiro (BWV 992), escrito para a ocasião da morte de um de seus irmãos, é também sua primeira composição datada para instrumento de teclado. É o único experimento de Bach no campo da música programática. Foi escrita aos dezenove anos de idade.

Audição: Capricho BWV 992 Sviatoslav Richter


Caprichos BWV Data de Composição Observações
Capricho sobre a morte de seu irmão. Bb 992 1703-1704 ou 1706 É a primeira obra datada para teclado. Faz referência às “buzinas” de um cocheiro.
Capricho em E 993 1704

Fantasia – Como a Tocata e o Prelúdio, apresenta caráter improvisatório, e é geralmente utilizada como introdução de uma Fuga. Como pode ser observado na tabela, Bach compôs tanto Fantasias quanto Fantasia e Fugas para o orgão e para teclado. Sendo peça de caráter improvisatório, é utilizada precedendo uma fuga além de sozinha.

Sobre a Fantasia cromática, temos que esta peça se assemelha à Fantasia em Gm e à Tocata em Dm. Apesar de não apresentar grandes dificuldades técnicas, exige grande maturidade interpretativa por parte do instrumentista.
A Fantasia e Fuga em Am (BWV 904) lembra uma peça para orgão em termos de estilo. A fuga tem dois temas.
A Fantasia e Fuga em Cm (BWV 906) apresenta características da música italiana.

Audição: -Fantasia Cromática BWV 903 (Tem Partitura) Joseph Stephens
-Fantasia e Fuga em Am BWV 904 (Tem Partitura) G. Leonhardt
-Fantasia e Fuga em Cm BWV 906 (Tem Partitura) Tatiana Nikolayeva


Fantasia / Fantasia e Fuga BWV Data de Composição Observações
Fantasia e Fuga em Cm 537 Weimar, 1708-17 Orgão
Fantasia e Fuga em Gm 542 Fuga: Weimar, 1708-17 Fantasia: Cöthen, 1717-23 Orgão
Fantasia e Fuga em Cm 562 Fantasia: Weimar, 1708-17 Fuga: Leipzig, 1745 Orgão
Fantasia e Fuga em Am 561 Orgão
Fantasia em Bm 563 Antes de 1707 Orgão
Fantasia em C 570 Antes de 1707 Orgão
Fantasia em G 571 Orgão
Fantasia em G 572 Antes de 1708 Orgão
Fantasia em C 573 Cöthen , 1722 Orgão
Fantasia super Komm, Heiliger Geist 651 Orgão
Fantasia super Christ lag in Todes Banden 695 Weimar, 1708-17 Orgão
Fantasia super Jesu, meine Freude 713 Weimar, 1708-17 Orgão
Fantasia super Valet will ich dir geben 735 Weimar, 1708-17 Orgão
Fantasia e Fuga Cromática em Dm 903 Cöthen, 1720 Teclado
Fantasia e Fuga em Am 904 Leipzig, 1725 Teclado
Fantasia e Fuga em Dm 905 Teclado
Fantasia e Fuga em Cm 906 Leipzig, 1738 Teclado
Fantasia e Fuga em Bb 907 Teclado
Fantasia e Fuga em D 908 Teclado
Fantasia em Gm 917 Teclado
Fantasia sobre um rondó, em Cm 918 Teclado
Fantasia em Cm 919 Teclado
Fantasia em Gm 920 Teclado


Variações – As variações são geralmente construidas sobre uma peça para canto, como é o caso da Ária e 30 Variações (Variações Goldberg). As Variações Goldberg, apesar de apresentarem dificuldades técnicas para o instrumentista em algumas variações, é em geral mais fácil do que o Cravo Bem Temperado. A dificuldade é mais interpretativa do que técnica.

Audição: Variações Goldberg (DVD) Glenn Gould.

Ária e 30 Variações (Variações Goldberg) 988 Nuremberg, 1741-2 Harpiscordio com dois teclados.

Tocata – A Tocata, como a Fantasia e o Prelúdio, tem caráter improvisatório, podendo ser utilizado tanto sozinho como antes de uma Fuga. Bach escreveu sete Tocatas para Teclado e quatro Tocata e Fugas para o Orgão.

Audição:
BWV 914
BWV 915
BWV 916 Glenn Gould

Toccata, Adagio e Fuga BWV 564 em C (Orgão)

Tocata e Fuga BWV 565

Tocata e Fuga em Dm 538 Weimar 1708-17 Orgão
Tocata e Fuga em F 540 Weimar 1708-17 Orgão
Tocata, Adagio e Fuga em C 564 Weimar 1708-17 Orgão
Tocata e Fuga em Dm 565 Antes de Weimar, 1708 Orgão
Tocata em F#m 910 1717 Teclado
Tocata em Em 911 1717 Teclado
Tocata em D 912 Weimar, 1710 Teclado
Tocata em Dm 913 Antes de 1708 Teclado
Tocata em Em 914 Antes de 1708 Teclado
Tocata em Gm 915 Antes de 1708 Teclado
Tocata em G 916 Weimar, 1719 Teclado








Assim concluimos os trabalhos sobre a obra para teclado de J. S, Bach. Percebemos durante esse período de estudos que Bach contribui em muito para o desenvolvimento do Piano e de sua técnica em:

•Desenvolvimento da afinação temperada
•Desenvolvimento do dedilhado na utilização do polegar
•Desenvolvimento da Fuga
•Peças didáticas
•Peças de Concerto

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